Há pouco tempo uma amiga me
perguntou se eu penso em ter filhos, e essa pergunta ficou ecoando em minha
mente... não pela dúvida sobre a maternidade, mas sim porque eu não tenho mais
tempo para dúvidas, e isso me fez refletir sobre toda a minha vida.
Estou prestes a completar 35 anos
e, durante esse tempo, vivi muitas coisas, mas deixei de viver as mais
intensas, por puro medo; sobre a maternidade em si, por ter sido criada sem
pai, com uma mãe superprotetora, valente, forte e amorosa, eu sempre me
imaginei mãe, mas sem um pai para meu filho... conforme fui amadurecendo,
passei a crer que eu deveria poder assumir todas as necessidades de um filho,
tanto financeiras quanto emocionais, caso fosse necessário, mas entendi que uma
figura paterna é importante sim, e foi aí que o sonho da maternidade ficou mais
distante, pois nenhum homem com quem eu me relacionava eu julgava ser bom o
bastante para ser pai de um filho meu, pois precisava ser perfeito; assim
sendo, para decidir ser mãe, eu queria estar num relacionamento estável, com um
homem respeitável e que tivesse o mesmo comprometimento com a paternidade que
eu tenho com a maternidade, que tivesse a mente aberta para educar essa criança
da melhor forma possível e que, mesmo que o relacionamento comigo não desse
certo, continuasse a ser um bom pai! Resultado: O cara nunca era bom o bastante!
Aos 35 anos eu vejo que não tenho mais tempo para conhecer alguém, entrar num
relacionamento sério, confiar no cara nessa profundidade que preciso, encaixar
um bebê na minha rotina tão corrida... não tenho mais tempo! Agora eu entendo
que a resposta não é que eu ainda não tenho filhos, mas sim, que eu não tive
filhos.
Depois de entender esse passo
sobre a maternidade, comecei a pensar em outros aspectos da minha vida nesses
35 anos... o que eu fiz de concreto? O que eu ainda pretendo fazer de concreto?
Bom, eu estudei, eu me preparei e me dediquei para um futuro, fui filha, irmã,
sobrinha, neta, tia, amiga... fui namorada, algumas vezes, e esposa informal,
uma vez. Sempre quis ser correta, tanto por mim quanto pelos outros, quando
entendi que pessoas me usavam como exemplo... ou seja, não me permiti errar,
ousar, falhar, e isso foi tão cruel para mim! Nunca tomei um porre, nunca
fumei, nunca usei nenhum tipo de droga, nunca passei a noite fora sem dizer
onde eu estava, nunca fiz algo ilegal. Trabalhei na mesma empresa durante toda
a minha vida adulta até então, sempre procurei fazer o bem para o próximo, e
sempre cuidei de todos ao meu redor, colocando a felicidade dos outros acima da
minha.
Agora, após 35 anos, eu me
pergunto o que eu fiz por mim, pela Mariana; eu abri mão do grande amor da
minha vida por medo, porque não confiei na vida; eu aturei muito assédio moral
onde eu trabalho, por tantos anos (claro, alguns períodos piores, outros
melhores, quase bons), por medo de sair e procurar outra coisa, por
acomodação... por medo, novamente. Eu fui ansiosa minha vida toda, afinal de
contas, eu tinha que ser forte, eu não podia falhar... eu comi minha ansiedade
e meus problemas, eu coloquei minha saúde em risco por conta disso, e a obesidade
veio como consequência, e o que é mais louco, é que eu gostei dela! Por ter
sofrido abuso quando criança, e alguns assédios nojentos durante a adolescência,
eu não gostava do meu corpo no peso ideal, pois ele chamava atenção de seres
nojentos, que não tenho como chamar de “homens”, e percebi que, num corpo
obeso, o que prevalece sou eu, e só chamo a atenção de homens de verdade, que
colocam a minha pessoa acima do meu corpo. Eu tive alguns relacionamentos, e o
que é mais incrível é que os namorados que eu cuidei mais, que eu amei mais, após
terminarem comigo, se casaram com a próxima mulher que encontraram... o que
isso significa, além de que eu não sou boa o bastante pra ser esposa? Ser uma
mulher forte chama a atenção, num primeiro momento, mas quando os homens
percebem que eu não serei subjugada, acabam me considerando desinteressante.
Estou exatamente num momento
desses agora... o homem que eu decidi amar e tomar como marido foi embora,
alegando coisas que não fazem tanto sentido, para mim... ele foi embora para o
outro lado do mundo, e me avisou de sua partida apenas 5 dias antes de ir, sem
me dar o tempo necessário para digerir a informação, e agora ele me contou que
vai se casar em breve, num casamento arranjado, como manda a sua tradição
cultural, também sem me dar tempo para digerir a informação, e como se eu nada
fosse. Por que eu estou passando por isso? Por que eu estou me permitindo sofrer
novamente?
Depois de 6 meses que ele partiu,
eu me permiti entrar em contato com alguém que balançou o meu mundo, antes de
eu entrar nesse casamento... eu cri que talvez isso fosse algo gostoso de
reviver, e quando o vi, entendi que ele é especial sim, mas que não é um
companheiro.
Agora eu estou frente a frente
com uma decisão que pode mudar todo o rumo da minha vida... se eu optar por
isso, não sei o que me espera à frente... se eu desistir, continuarei a minha
vida segura e sem significado de sempre; e aí, ainda terei medo de viver? Por
que será que eu desejo tanto a morte?
No medo manter a mente impotencializa o onipotente.
ResponderExcluirGK